quinta-feira, julho 03, 2008

O dia em que nevou no Maraca Life is a f* bitch...



Essa vida mega-competitiva, embalagem supersized padrão american dream, realmente é uma merda. Pelo menos se você for um jogador ou torcedor do Fluminense. Como já dizia Airton Senna (c*g*d*-de-goma não confirmada): "O segundo é o primeiro dos últimos".

Veja o caso do nosso amigo Tiago Neves, um dos craques do Fluminense: indiscutivelmente, foi o herói do jogo, marcando os 3 gols que o tricolor precisava para sair do sufoco contra o potente LDU, do Equador. Já ia se desenhando nas manchetes da manhã seguinte:

  • "Tiago faz NEVAR no Maraca!"
  • "Tiago Neves 3 x 0 LDU"
  • "Tiago Neves desponta como o substituto do ídolo Riva"
Mas... Tiago, logo o craque, perdeu o seu na cobrança dos penais (amarelou?!). Não tenho dúvidas que ele será massacrado como boi ladrão. Sabe como é: temos que ter um herói ou um vilão na mídia. Meio-termo hoje não cabe mais.

"Tiago Neves, o quase-herói" vira "Tiago Neves, o Merdão". E depois de uns meses sem conseguir superar o trauma, deixa o Flu brigado com o clube e com a torcida, que não larga do seu pé.

Depois me digam se eu acertei.

Detalhe: seguindo o meu raciocínio de que se a vida tiver que escolher entre 2 caminhos tomará sempre o mais trágico, a síndrome do craque foi cruel essa noite. Perderam, além do Tiago, Conca e Uóxiton. E se o Dodo tivesse batido, tinha perdido também.

Edmundo, durma em boa companhia essa noite. E vê se não puxa esse lençol, hein?!

quarta-feira, julho 02, 2008

Da série "Estudos Antropológicos nos Comentários do O Globo": A Guerra Civil vem aí, só não nota quem não quer

Já faz um tempinho que eu digo que é muito mais divertido ler os comentários dos leitores do que as próprias notícias em si do jornal O Globo (versão online). Mas entre risos aqui e gargalhadas ali, muitas vezes o show de horrores nos faz pensar um pouquinho sobre a mentalidade que impera no país atualmente.

Veja o caso recente do rapaz que foi morto por um PM, na frente da boate aqui no Rio: a Mãe é promotora (cargo de destaque no serviço público), o filho freqüenta uma boate notória por ser um antro dos pray da Zona Sul, o PM é um funcionário do estado (pago com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro), para servir de "arrimo moral" para situações em que o pray e sua gangue não se garantam sozinhos.

O cenário estava armado para mais um virtuoso massacre: mídia caindo matando, já se preparando pra fritar Mãe/Filho/Segurança em rede nacional (pão e circo, não é mesmo?). Mas... Bom, como já diz meu grande amigo João Elias, uma história tem pelo menos 3 lados: o do sujeito A, o do sujeito B, e lado da verdade.

Foi divulgado pouco tempo depois que essa promotora é jurada de morte, simplesmente, pelo Fernandinho Beira-Mar. OK, vamos lá: pense no pior bad-ass do Brasil hoje (não vale políticos!). Pois é, ele mesmo. Eu devo ser um covarde mesmo: se eu estivesse jurado de morte pelo Beira-Mar, eu ia querer uns 20, 30 seguranças 24hs por dia. Na verdade, como eu sou um amarelão, eu provavelmente já teria mudado de nome, virado mulher (foi mal, Clau...) e ido morar fora do Brasil, escondido em algum lugar com nome difícil de pronunciar.

Mas essa promotora ficou. E faz 7-8 anos que ela vive no Rio de Janeiro, essa cidade amável, ordeira e pacífica, jurada de morte pelo cramunhão em pessoa, que controla metade do crime local. Detalhe: naquela época, o filho dela deveria ter por volta de 10 anos.

Agora que você já se sensibilizou com apenas 2 parágrafos de texto mal escrito, o terreno já está preparado para o final tragicômio. Sinta as pérolas comentadas sobre a carta ao público enviada pela promotora:

  • "... A promotora afirmou que durante os 7 anos que o PM presta serviços a ela nunca teve que sacar sua arma, isso prova que não corre tanto risco de ameaças assim ..."

  • "... esse garoto que sofre ameaças tão sérias de morte tinha que estar se expondo assim na noite violenta do rio? estava procurando sarda para se coçar isso sim... se garantindo no segurança da mamãe para se meter em brigas ..."

  • "... Cara promotora, assim como os alcoólatras que se reunem nos AA para resolverem seus problemas, sugiro um lugar ideal para a V.Exa. e excelentíssima prole sentirem-se com seus iguais marcados para morrer: SUS (Sistema Único de Saúde), no qual seu anjinho nunca entrará nem a sra., e não tem a menor idéia do que é. Lá, sim! Todos estão MARCADOS PARA MORRER e são PRISIONEIROS do Estado que paga o seu humilhante salário ..."

  • "... Esse é o preço da profissão...se não gosta peça demissão do serviço público e das mordomias que estão á disposição ..."

  • E um último que não encontrei novamente, mas dizia mais ou menos "isso aqui é Rio de Janeiro, não tem peito pra aguentar, muda pra Suíça!"
Depois dessas, eu até tentei concatenar um comentário, mas juro: é difícil. Esse caldeirão tem a mistura perfeita para uma guerra de classes: um ódio instintivo daquele que não pode contra aquele que pode, daquele que não tem contra aquele que tem. A mensagem por trás parece ser "Esse é o país dos miseráveis, amigo, não gostou é melhor vazar agora, pois nós vamos tomar o controle e fazer a 'justiça social' ".

E vamos concordar que o Lula tem colocado cada vez mais tempero nesse caldeirão com seus comentários demagógicos de "pai dos pobres", jogando pobres contra ricos, norte contra sul.

Quanto tempo mais o "tecido social" brasileiro vai aguentar? Façam suas apostas.

P.S.: Não entendam isso como um posicionamento contra ou a favor desse crime. Se o PM se precipitou, se agiu com criminoso matando o que ele considerava se "apenas mais um", se ele foi atacado por um bando em fúria, tudo precisa ser explicado com o andar das investigações. Mas que é legítima a necessidade daquele PM estar lá naquele momento, isso é.